Abri os olhos devagar pela primeira vez depois de muito tempo, a claridade me cegava de um modo irritante e eu me perguntei por quanto tempo eu estive dormindo e sinceramente, não fazia a menor ideia. Ouvi os murmúrios ao redor e continuei parada, tentando decifrar como eu havia ido parar ali pela quinta vez consecutiva no ano. Crises. Crises fortes. Daquelas que fazia minha cabeça doer incessantemente por horas e horas até que eu desmaiasse ou dormisse.
Mas dessa vez eu tinha dormido demais. 25 dias ao todo sem abrir os olhos ou realizar qualquer movimento. Sem resposta aos estímulos mais absurdos pelos quais passei. Uma enfermeira alta e loira demais me fez o grande favor de me contar quantos dias fazia desde que eu havia chegado e porque eu havia chegado. Depois de obter as tão gloriosas informações eu simplesmente voltei a dormir. Como se 25 dias não tivessem sido o suficientes pra matar o meu cansaço.
- Ava? Aquela voz estridente e fina da minha irmã ecoou pelo quarto me acordando do cochilo da tarde. Eu realmente sou uma dessas desocupadas.
- O- oi. Eu disse e me assustei com a rouquidão na minha voz. Eu nunca ia me acostumar com isso.
- Ficamos com tanto medo dessa vez. Você não abria os olhos nunca e eu pensei... Eu pensei que... Ela soltou chorando baixo, aquele fungado ridículo me irritava, mas eu não disse nada. Sorri de canto e fechei os olhos de novo, num pedido mudo pra que ela fosse embora e me deixasse dormir em paz por mais uns dias.
- Preciso dormir. Arrisquei de uma vez e a frase saiu inteira, arrastada, porém inteira.
- Ele voltou. Ela disse sentando na poltrona do meu lado.
- Quem, Isabella? Eu perguntei irritada. Não queria saber de ninguém além de mim e do meu súbito cansaço eterno.
- Matt. Aquilo pareceu um tapa duro e forte no meu rosto.
Fazia tempo, muito tempo desde que eu tinha escutado aquele nome, um tempo absurdo pelo que me parece. Ele tinha sido meu melhor amigo durante anos e depois foi embora sem dizer um adeus sequer em seguida voltou cinco anos mais velho e cinco vezes mais idiota. Não me reconheceu e eu não perdoei. Nos tornamos inimigos pessoais e então ele se foi de novo.
- Não quero saber. Eu consegui dizer de uma vez só.
- Mas eu pensei que você quisesse saber que ele conseguiu aquilo tudo. Você sabe, a banda famosa, as mulheres ensandecidas ao redor dele. Aquilo tudo mesmo. Você precisa ver, a cidade tá um caos por causa dele e da banda. Ela disse rindo de um jeito tão forçado que me irritava.
Eu sempre tive a plena consciência de que Isabella nunca gostou de mim, claro que o fator de sermos gêmeas idênticas sempre pesou pra isso. Ela detestava saber que existia mais alguém no mundo com os malditos olhos cor de violeta. Ela é dessas que ama ser única e inigualável, então o fato de sermos gêmeas sempre a irritou.
- ENFERMEIRA, SOCORRO! ENFERMEIRA! Eu gritei meio rouca, minha garganta ardendo como se eu tivesse tomado um copo de tequila pura.
Uma enfermeira entrou correndo e tirou o ser que possivelmente devo continuar chamando de irmã e me acalmou dizendo que eu poderia voltar a dormir. Fechei os olhos e ignorei todo e qualquer barulho vindo dos corredores do hospital. Minha cabeça doía e eu ignorava com todas as forças que eu tinha e não tinha. Cinco dias depois eu apanhava minha mochila na recepção da ala de internações do hospital, com a alta assinada e minha cara de doente já em menos evidencia. Nem minha mãe ou minha irmã estavam lá então eu apenas ignorei o fato e sai pra rua sendo engolida pela neve logo em seguida. Fiquei nas pontas dos pés na beirada da calçada e sinalizei pro primeiro táxi que vi. Com sorte, eu chegaria em casa antes de anoitecer e organizaria toda a minha vida pela centésima vez. Quem sabe agora demorasse um pouco mais pra próxima crise. Com sorte eu me daria bem dessa vez.
O toque do meu celular me fez acordar do meu rápido cochilo no banco de trás do táxi que me levava pra casa. Puxei o aparelho e atendi o mais rápido que pude tudo pra fazer aquele barulho infernal parar. Uma voz grossa e arrastada ecoou nos meus ouvidos e eu gelei por inteiro.
- Avallana? Sou eu, Matthew.